A Educação Brasileira passa por
desafios que são frutos de décadas de más escolhas. Não é necessário ser um
especialista em educação para saber que a área não vai bem.
Eu sou professor há quase dez
anos, nessa breve experiência acumulei observações e algumas reflexões sobre o
assunto e, é sobre isso que vamos tratar neste artigo.
Acredito que a maioria das
pessoas já saibam dos rankings da educação brasileira e o quanto estamos mal.
Mas vou colocar alguns deles aqui para contextualizarmos.
A Educação Brasileira precisa de mais investimento! Mas será que isso significa
apenas mais dinheiro?
Posso garantir que não é falta de
dinheiro que fez nossa educação chegar ao ponto que estamos. Como disse
anteriormente, é fruto de décadas de más escolhas, fruto de muitos governos
diferentes.
Mas neste artigo não pretendo abordar
sobre o passado, sobre os eventos que levaram a educação brasileira chegar ao
ponto que está.
Neste artigo vamos falar sobre
reflexões e possíveis ações para o futuro.
Minha experiência de professor
Atualmente sou formando em
Letras. Já trabalhei em vários setores da educação e em várias escolas
diferentes. Trabalhei em escolas públicas e particulares, dei aula em colégios
de horário integral, fui professor de uma turma de alunos com altas habilidades
e superdotação (que merece um artigo só para o assunto), trabalhei na
secretaria de uma escola, já fiz função de inspetor de aluno, fui professor em
projetos como Mais Educação e, também de projetos de cursos livres de desenho,
dentre outras experiências.
Acredito que tenho algumas
considerações a fazer sobre este tempo dedicado a educação e, quero propor algumas possíveis
melhorias, com base no que vivenciei diariamente e até hoje vivencio (ainda dou
aula).
Mas primeiro vamos entender os pilares da educação brasileira e depois
algumas possíveis soluções.
Considero que nossa educação
possui três pilares que influenciam diretamente no desenvolvimento dos alunos
dentro e fora da escola.
Os baixos salários dos
professores são apenas parte do problema e mesmo que solucionado, não
resolveria o problema atual da educação.
A meu ver a
educação brasileira está indo na direção errada e não importa quanto dinheiro se
invista, a direção continuará errada. Há melhorias a cada ano, mas está longe
de ser o ideal.
Os 3 pilares de uma boa educação:
1 – Família
Esse é um ponto polêmico, mas
fundamental para a solução do problema.
Muitos pais acham que a escola é
um depósito de criança e que os professores vão ensinar tudo o que é
necessário, mas na realidade os professores não têm condições de ensinar bons
modos a todos os alunos.
Imagine você em uma sala com umas
30 ou até mesmo 40 crianças e, algumas com uma péssima educação, sem saber
respeitar o professor, sem saber que é necessário manter o silêncio ou até
mesmo ficar sentado e escutar. Em um cenário desse, é possível dar uma aula de
qualidade?
Muitos professores, com um esforço heroico conseguem, mas está longe de
ser o ideal.
Não adiantaria muito o professor
ganhar 5 mil, 10 mil reais se em sala os alunos não sabem se comportar, não
entendem a importância dos estudos e de respeitar o professor e seus colegas de
turma.
É responsabilidade da família
(dos responsáveis pela criança) dar a educação básica sobre respeito e bons modos, saber se comportar em uma escola, da
mesma forma que deve ensinar a andar, a se alimentar, a falar e etc.
O bom comportamento em sociedade
deve vir primeiro dos pais e a escola reforçá-lo.
A cidadania, a moral e a ética começam em casa.
É muito difícil ensinar quem não
quer aprender. E é muitas vezes o maior desafio dos professores.
Acredito que a parte mais
desgastante de ser professor é controlar uma turma lotada com alunos que não
entendem a necessidade de estudar e,
não precisa ser muitos alunos assim para dificultar a aula, apenas 1 aluno
desinteressado pode criar muitos problemas para um professor.
Os alunos que têm maiores problemas em casa geralmente são os mais difíceis
de lidar.
Perguntei alguns colegas de
profissão e eles confirmaram minhas suspeitas. A falta de acompanhamento dos
pais interfere diretamente no desenvolvimento da criança.
Acredito que não seja muito
difícil de entender isso.
Por isso é fundamental que as
famílias acompanhem os estudos de seus filhos, cobrem boas notas e
principalmente um bom comportamento em sala de aula.
Se o aluno necessita de um
acompanhamento educacional especial, deve ser feito o quanto antes, mas
geralmente os maus alunos costumam ser assim por falta de educação mesmo, não
são aqueles com necessidades educacionais especiais.
A educação começa em casa e
continua na escola.
A escola vai ensinar a ler,
escrever, ensinar matemática, geografia, física e etc.
Ensinar a se comportar em sociedade cabe a família.
Ensinar que não se deve quebrar o
banheiro da escola é dever dos pais, ensinar que não se deve quebrar as
cadeiras da sala também (infelizmente acontece com bastante frequência em
escolas públicas), ensinar o respeito e a importância dos estudos começa em
casa.
Não importa o quanto o governo
invista dinheiro na educação, mas nada irá mudar se os alunos não quiserem
estudar.
O comportamento deprimente de muitos alunos é um dos grandes problemas
na educação e não tem como haver solução sem buscar resolver este problema.
Mas vamos ser justos, não é
apenas na educação pública que temos alunos desrespeitosos e, também não são todos
os alunos em escolas públicas que são ruins. Muitos alunos são excelentes, não
tem como negar, mas os que não estão interessados em estudar acabam influenciando
os outros alunos.
2 – Escola
Uma boa estrutura escolar faz
toda a diferença na solução do problema.
A escola não é apenas paredes e
telhados. Os profissionais precisam estar comprometidos com a responsabilidade
que a educação exige.
Entendo perfeitamente o desânimo
de muitos professores, a educação brasileira tem muitos problemas e um deles é a
falta de valorização. O salário de um professor é baixo, e os desafios e as
cobranças são gigantes.
Nós professores precisamos lidar
com problemas que não fomos formados para resolver. Muitos sofrem violência,
são ameaçados, perdem a voz por precisarem falar alto com uma turma barulhenta,
perdem finais de semana preparando aulas e concluindo relatórios.
E tudo isso para ganhar um salário baixo comparado com outras
profissões essenciais.
Precisam lidar com a boa vontade
de políticos da região. Em escolas municipais existe muita rotatividade de
profissionais contratados. Os concursos públicos podem parecer uma ótima
solução, mas existem pontos negativos.
Os problemas internos de
prefeituras e governos estaduais são complexos e desgastantes. Muito jogo de
interesse, muita corrupção, muitas histórias terríveis demais para entrar em
detalhes neste artigo.
Uma boa estrutura escolar é fundamental para a melhoria da educação
brasileira.
Salas limpas, salários em dia,
telhados sem goteiras, merendas de qualidade, entre outros exemplos. São
questões fundamentais para uma boa estrutura da escola.
E acredite, muitas escolas não têm
condições de oferecer este básico.
Profissionais comprometidos são
conquistados com uma boa estrutura e valorização. Muitos profissionais da
educação simplesmente desanimam, ficam esgotados e sem forças para manter o
ímpeto de amor pela educação que tinham quando entraram na faculdade.
Muitos continuam firmes no propósito
e vocação, mas tudo parece lutar contra eles. É necessário de uma ajuda de
cima.
E assim vamos para o nosso
terceiro pilar da educação.
3 – Governo
Quanto ao governo digo a
estrutura pedagógica oferecida pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura). Com
isso incluo bons livros didáticos, uma estrutura pedagógica que funcione, leis
que protejam tanto os alunos quanto aos professores.
Há muito a se falar sobre como o
governo pode ajudar a educação brasileira a melhorar, mas vou citar mais à
frente quando falarmos sobre possíveis soluções.
Depois de décadas de sofrimento e
descaso com a educação, não será fácil reverter à situação. E nesse ponto cabe
a população votar em políticos comprometidos com bons ideais.
E não pense que me refiro apenas
aos presidentes.
É fundamental escolher bem governadores e prefeitos.
Que talvez influenciem mais
diretamente na educação escolar de seus filhos que o presidente da república
(atual ou os próximos).
O MEC não tem o poder de impor
medidas para os estados e municípios, ou pelo menos sua influência é bem mais
limitada que muitos acreditam.
Governadores e prefeitos têm muita autonomia para desenvolverem seus
projetos na educação, claro que dentro do que é permitido por leis.
Muitos acabam focando suas
reclamações no presidente A ou B e, esquecem de cobrar os prefeitos de suas cidades.
Devemos cobrar a todos os
políticos, não me entenda mal, mas cobrar os prefeitos e governadores sobre a
educação pode ter melhorias muito mais significativas a curto e a médio prazo.
A educação brasileira tem pressa!
- Mas o que podemos fazer para melhorar isso?
- Primeiro entender o problema.
- Segundo entender sobre as possíveis soluções.
Possíveis soluções para a educação brasileira:
Será que é necessário desenvolver
um método novo revolucionário para melhorar a educação?
Não!
A solução pode não ser fácil, mas
a lógica é simples.
Vou evitar entrar em questões
mais técnicas. Vou focar na lógica do raciocínio para ficar mais acessível para
todos.
Primeiro precisamos saber:
·
Por que os outros países têm bons
resultados na educação e o Brasil não?
·
O que eles fazem que funciona e aqui não
fazemos?
·
Quais textos teóricos eles leem?
São perguntas simples que podem
fazer toda a diferença.
Se o Brasil está com seus índices
de educação ruins, concorda que algo precisa ser mudado ou não?
Se algo não está funcionando
precisa ser revisto e aperfeiçoado e, isso vale para qualquer área.
Por que insistimos tanto em manter
a educação da forma que está? A meu ver, nossa educação parou na revolução
industrial. Perfeita para formar pessoas iguais, dentro de uma média.
Mas hoje percebemos que os
“diferentes” acabam ganhando uma boa valorização em suas carreiras
profissionais.
Nas escolas as crianças não
aprendem a ser criativos, a resolverem problemas reais (os de matemática ficam
pelo caminho), não sabem liderar, não aprendem sobre economia e oratória.
Nosso currículo escolar tem
melhorado, mas ainda foca em aprender assuntos que vão ser facilmente
esquecidos pelo aluno ao terminar os estudos. Uma formação basicamente conteudista.
Ou pelo menos ensinam de uma
forma pouco relevante e, isso ajuda a criar o desinteresse que comentamos no
primeiro pilar da educação.
Algo precisa mudar!
Mas mudar para qual direção?
É uma pergunta fundamental e cabe
muita discussão, mas vou ser breve e bem objetivo na minha resposta para essa pergunta.
O que funciona em outros países
pode funcionar aqui. É óbvio, mas por que não colocamos em prática? Usar como
exemplo países como Japão, Coreia do Sul, Inglaterra, EUA, pode ajudar a
definir uma direção que já é eficiente.
Alguns talvez digam: “são países
que a cultura é muito diferente da nossa” ou “são países de primeiro mundo, não
tem como o Brasil fazer igual.”
E afirmo com toda certeza que é
perfeitamente possível aplicar as boas práticas na educação de outros países.
São questões técnicas com base em textos teóricos de profissionais renomados na
educação.
Com a devida adaptação é possível
aplicar tais conhecimentos.
Não é necessário reinventar a roda para resolver o problema da educação
brasileira.
Mas mudanças precisam ser feitas.
Estou evitando entrar em termos
técnicos, mas o professores brasileiros costumam usar métodos mais ligados ao
construtivismo. Ele pode ser muito convincente, chega a ser poético, mas os
resultados comprovam que não é tão eficiente quanto dizem.
E na educação recomenda-se variar
os métodos na aula para estimular várias áreas de desenvolvimento.
Outro ponto fundamental para melhorar a educação é fortalecer a base.
Muitos alunos saem do ensino fundamental
sem saber ler direito e, consequentemente não aprendem no ensino médio. Quais
são as chances desse jovem passar em um vestibular para ingressar em uma
universidade?
Os anos iniciais da educação são
fundamentais para um bom desenvolvimento. E com base no que vi e observei, a
educação infantil brasileira nas escolas públicas é fraquíssima. Professores
são impedidos de ensinar conteúdos mais “avançados” porque algumas pessoas de
secretarias municipais acham que as crianças não são capazes de aprender, usam
a desculpa de que é muita informação.
Enquanto as crianças de escolas
públicas mal aprender todo o alfabeto, crianças de colégios particulares
estudam conteúdos mais aprofundados, desenvolvem muito mais rápido a leitura e
a escrita. Chegam no primeiro ano com muito mais conhecimento.
E em casa de pessoas mais
abastadas muitas vezes já sabem um segundo idioma.
Enquanto falam que ensinar conteúdo além do alfabeto para nossas
crianças é muito, filhos de pessoas ricas aprendem a ler e escrever em dois
idiomas.
Tem algo errado nessa história.
Claro que existe um limite para
ensinar a uma criança em seu estágio de desenvolvimento, mas digo com base na
educação pública do Rio de Janeiro, não ensinam o que poderiam ensinar.
E não é culpa dos professores,
muitos querem reforçar o conteúdo, mas a ordem vem de superiores. Secretários
de educação, ministros e, falo no âmbito estadual e municipal principalmente.
Algo precisa ser feito. Converse
com pais que tiraram seus filhos pequenos de colégios públicos e matricularam
em colégios particulares e veja os relatos das dificuldades para acompanhar a
turma de início, depois de um tempo ele consegue acompanhar. Isso prova que não
é falta de capacidade da criança e sim falta de informação e estímulo adequado.
Por que os colégios particulares
desenvolve melhor seus estudantes que os colégios públicos? (Sei que há
exceções, mas na média é isso).
E volto a pergunta:
O que os países nos primeiros lugares no ranking da educação fazem que
nós não fazemos?
A resposta está na forma que eles
educam seus filhos, na estrutura das escolas e no método apresentado pelo
governo.
E também nos modelos teóricos
que eles usam como base para sua metodologia de ensino.
E nós?
- · O que estamos fazendo?
- · O que estamos lendo?
- · Tem funcionado?
A proposta deste artigo é a reflexão.
Diante dos argumentos
apresentados, o que cada um pode fazer pela educação?
De fato é um desafio muito
grande, mas é possível resolver.
Ou lutamos pela educação o quanto
antes ou será cada vez mais difícil reverter os prejuízos.
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